A falta de sono é das queixas mais comuns em consultórios médicos hoje em dia. Pela minha experiência sei que a mesma reclamação é feita a vários especialistas, desde o clínico geral a cardiologistas, endocrinologistas, neurologistas ou médicos do aparelho respiratório. Os motivos são os mais variados e vão de pessoas com problemas emocionais, perda de familiares próximos, ameaças profissionais, dificuldade respiratória, melancolia na adolescência, depressão, obesidade, etc.
Todos esses pacientes, por razão física ou psiquiátrica, sofrem por não poder dormir adequadamente. Um estudo recente indica que 20 a 40% dos adultos, aparentemente sadios, têm dificuldade de dormir. A insônia é mais comum nas mulheres, eleva-se com a idade e com o nível social mais alto. A imensa maioria (80%) sequer menciona a insônia ao médico que lhe atende, a não ser que especificamente lhe perguntem. Estão tão acostumadas ao problema que não descrevem as noites mal dormidas, os olhos abertos pensando nos problemas do dia seguinte, as idas ao banheiro, os ouvidos atentos aos barulhos e ruídos da noite.
O sono e a vigília (período normal de atividades diárias) seguem um padrão bastante conhecido (ritmo circadiano), isto é, de dia estamos vigilantes e acordados e à noite dormimos. Todo este ritmo dia-noite é regulado por vários relógios biológicos internos, que podem sofrer influências ambientais. O médico deve avaliar alguns princípios básicos do paciente de insônia: quanto maior for o período de vigília ("um dia cheio de atividades") melhor o sono noturno.
O sono no homem primitivo era regulado pela luz solar. A glândula pineal situada no centro do sistema nervoso central recebe do aparelho visual a informação de que o dia chegou ao fim. Neste momento a pineal entra em atividade e solicita a produção de melatonina, neurotransmissor que informa os sistemas de vigília sobre a hora do repouso. Simples: o sol se põe é hora de dormir. Mas o homem atual está muito distante dessa simplicidade natural. Hoje, o uso de melatonina tem ajudado muitos insones a dormirem melhor e, acredita-se, que a falta de melatonina possa ser um fator - não provado - de falta de sono.
Um período de estresse agudo, qualquer que seja o motivo, pode detonar uma fase de insônia ou sono interrompido. Estimulantes como a cafeína, consumo de álcool, nicotina, e até excesso de refrigerantes, tipo Cola, também podem atrapalhar a noite de descanso. O fato de se deslocar para altitudes elevadas pode ocasionar insônia em grande parte dos viajantes e geralmente exigem um ou dois dias de adaptação.
A pressão alta, não tratada, é fator importante de falta de sono talvez pela cefaléia crônica, tipo nucal (na nuca). Doenças cardíacas que dão falta de ar e obrigam o paciente a dormir com dois travesseiros tornam o sono difícil. O excesso de hormônio de tireóide acelera o "giro mental", produzindo grande agitação psicomotora, hiperlalia ("fala sem parar"), movimentos musculares desordenados, taquicardia ("coração bate depressa demais"), calor excessivo. Todos estes sintomas levam à insônia.
Claro que doenças psiquiátricas são uma evidente causa de insônia. A depressão endógena é a principal causa psiquiátrica de insônia. Outras: crises de pânico, ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo (TOC). O obeso tem a apnéia do sono, roncos imensos, dificuldade em respirar, tornando-se um insone, em grande parte. A terapêutica da insônia, portanto não se restringe a "dar uma pílula para dormir". É preciso que o médico avalie detalhadamente o histórico físico e psicológico do paciente. Saiba como é sua rotina de vida, o que ele faz durante o dia e como ele age diante de problemas. Além da prescrição de remédios, o insone pode tirar proveito de psicoterapia, tratamento comportamental e o chamado "bio feedback" ou seja, treinamento próprio, meditação, mantras, acupuntura. Tudo isso ajuda a dormir melhor.
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